4 Campo da datação
Datação é o campo entre parênteses que se segue à classe gramatical. Anota-se neste campo a data do primeiro registro conhecido ou estimado de uma palavra, com indicação da fonte onde ocorre ou da primeira obra lexicográfica que a incluiu em sua nominata. Informações complementares referentes à datação encontram-se no campo da etimologia.
4.1 Para a datação do vocabulário medieval, até o século XV, nossas principais fontes foram o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, do filólogo José Pedro Machado (JM), retrodatações levantadas por estudiosos, como o Prof. José Alves Fernandes (JAFernC), da Universidade Federal do Ceará, e abonações documentadas por Antônio Geraldo da Cunha e colaboradores.
4.1.1 Vocábulos que provêm de José Pedro Machado,
alguns anteriores ao século XIII, foram registrados com a data seguida
de "cf. JM":
4.1.2 Vocábulos
dos séculos XIII, XIV e XV datados com base em trabalhos de Antônio
Geraldo da Cunha encontram-se no dicionário com uma das seguintes indicações:
4.1.2.1 Quando provêm do Índice do Vocabulário
Português Medieval - editado pela Fundação Casa de Rui
Barbosa, em três volumes, referentes, respectivamente, aos vocábulos
iniciados pelas letras A (1986), B e C (1988) e D (1994) - foram registrados
com a data seguida de "cf. IVPM":
4.1.2.2 Quando trazem datação obtida mediante consulta ao fichário completo do Índice do Vocabulário do Português Medieval (vocábulos das letras E-Z), foram registrados com a data seguida de "cf. FichIVPM". Tal fichário abriga mais de 170.000 fichas, com a transcrição de passagens documentais extraídas de mais de 100 textos medievais, e encontra-se no Setor de Filologia da Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro:
4.1.3 A datação
de vocábulos do século XVI em diante ocorre com uma das seguintes
indicações:
4.1.3.1 Quando a datação do século XVI foi feita
a partir do material obtido em pesquisa coordenada, de 1960 a 1968, por Antônio
Geraldo da Cunha no antigo Instituto Nacional do Livro (I.N.L.), da qual resultaram
índices alfabéticos integrais dos vocabulários de mais
de 130 obras de autores quinhentistas, entre eles Gil Vicente, Sá de
Miranda, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Camões, Heitor Pinto, Garcia
da Orta etc., registraram-se a data, a sigla referente ao texto que o documenta
e outras indicações para a localização precisa da
abonação (cf. 4.1.6 para as indicações bibliográficas):
4.1.3.2 Quando a datação do século XVI foi colhida
indiretamente por Antônio Geraldo da Cunha, como nos verbetes abaratar
e abafadiço, citam-se a data e a fonte da datação,
precedida da redução "cf." (Nos exemplos a seguir referidos,
DA é a sigla da 1ª edição, de 1793, do Dicionário
da Academia das Ciências de Lisboa):
4.1.3.3 Quando não foi possível localizar direta ou indiretamente abonações para a datação de vocábulos do século XVI em diante, o dicionário registrou a data em que a unidade léxica foi pela primeira vez dicionarizada, indicando a fonte lexicográfica precedida de "cf.". (Tais fontes abrangem dicionários desde o Dictionarium ex Lusitanico in Latinum Sermonem, de Jerônimo Cardoso [JC, 1562] até a última edição do Dicionário Aurélio- século XXI [AF3, 1999]):
4.1.3.4 Quando a datação do século XVII em diante provém de pesquisas pessoais de Antônio Geraldo da Cunha, fez-se o registro no mesmo modelo descrito em 4.1.3.1:
4.1.3.5 Quando a
data de vocábulos do século XVII em diante teve como fonte indicação
colhida em obras de referência, principalmente os dicionários de
Bluteau, Morais (em especial 1ª, 2ª, 6ª, 7ª e 10ª edições)
e Domingos Vieira, ou os estudos etimológicos de José Pedro Machado
e Antônio Geraldo da Cunha, o registro é feito de uma das seguintes
formas:
4.1.3.5.1 Se a obra de referência fornecia abonação,
de cuja fonte foi possível obter dados precisos, indicou-se a data, seguida
de "cf." e a sigla da obra que a documenta:
4.1.3.5.2 Se a obra de referência fornecia abonação, de cuja fonte não foi possível obter dados precisos, indicou-se a data, seguida de "cf." e a sigla da própria obra de referência na qual se encontra a abonação:
4.1.3.6 Quando a
datação se refere a termos técnicos estrangeiros criados
nos séculos XVIII, XIX e XX, o registro foi realizado de uma das seguintes
formas:
4.1.3.6.1 Se a data de seu emprego no português foi obtida em
fonte direta ou indireta, indicou-se a data da fonte seguida de "cf."
e da sigla da obra:
4.1.3.6.2 Quando não se dispunha de data para o seu emprego no português, mas havia registro, no campo da etimologia, da data de sua primeira ocorrência na língua de origem, o campo de datação do dicionário foi preenchido, entre parênteses, em itálico, com o século da primeira ocorrência da palavra estrangeira, supondo que, embora aproximativa, a datação de termos técnicos portugueses seja afim daquela consignada na língua estrangeira:
4.1.3.7 Quando a
datação se refere a palavras estrangeiras do século XX,
o registro é feito de uma das seguintes formas:
4.1.3.7.1 Se existe data específica de seu emprego no português,
dá-se preferência à tal indicação, seguida
de "cf." mais a sigla da fonte em que se encontra:
4.1.3.7.2 Nos casos em que não se encontrou informação
específica sobre a data do seu emprego no português, atribuiu-se
à palavra a mesma data do étimo, inserida no campo da datação
entre parênteses, em itálico, por entender-se que, nesse século,
a crescente aceleração da troca de informações em
nível mundial justifica aproximarem-se a data da criação
de palavras estrangeiras e a da sua entrada no português, onde, por vezes,
ainda ocorrem sob a forma original:
4.1.3.8 A datação de gentílicos brasileiros registra-se em redondo, seguida de "cf. IBGE", supondo que a data, fornecida pelo IBGE, em que se atribui um nome a dada localidade, seja também a do gentílico a que esse topônimo dá origem:
4.1.4 Datações aproximadas ou supositícias, para as quais não se dispôs de abonações ou de referências indiretas, foram fornecidas em itálico:
4.1.5 A ausência
de dados no campo da datação ocorre como informação
de que a data é desconhecida e reflete o propósito deste dicionário
de registrar os dados cronológicos disponíveis, no pressuposto
de que qualquer datação fornecida está sempre sujeita a
revisões e complementações.
4.1.6 As abreviaturas das obras usadas nas datações dos
verbetes deste dicionário estão listadas na bibliografia
anteposta ao início do corpo do dicionário propriamente dito.
4.2 Como informações complementares referentes à datação, registram-se, no final do campo da etimologia, após ponto-e-vírgula e a abreviatura "f.hist.", em redondo, as formas históricas com grafias diferentes da atual. Esse registro compreende a data, em redondo, e a forma gráfica, em itálico:
4.2.1 Em princípio, não se fez registro algum de forma histórica na etimologia de um verbete quando a única data atribuída à unidade léxica definida correspondia a uma ocorrência cuja grafia era a mesma da entrada do verbete:
4.2.2 Em diversas
oportunidades, especialmente para maior clareza, fez-se o registro de formas
históricas sob a grafia atual.
4.2.2.1 Quando a data mais antiga correspondia à mesma grafia
atual, mas em datas posteriores registravam-se formas gráficas diferentes,
mencionamos apenas as grafias divergentes:
4.2.2.2 Nos casos em que a datação mais antiga correspondia a uma forma histórica com ortografia diversa da atual, registrou-se, para tornar mais precisa a documentação, a primeira ocorrência da grafia atual, mesmo que ainda não refletindo uso sistemático:
4.2.2.3 Quando a mesma datação correspondia a duas grafias
diferentes, dentre elas a atual, fez-se o registro das duas formas:
4.2.2.4 No caso de haver várias formas históricas datadas do mesmo século, indicou-se a data da grafia correspondente à atual, para evitar mal-entendidos:
4.2.2.5 Quando a datação era anterior ao século
XIII, registram-se todas as formas, mesmo que idênticas à atual:
4.2.3 As formas históricas correspondentes a diferentes acepções de um verbete foram agrupadas por acepção, informando-se sucintamente entre aspas, após cada um desses grupos, a acepção correspondente:
4.3 Em princípio, a datação de um verbete refere-se tanto à classe gramatical do primeiro bloco do verbete quanto à primeira acepção nele registrada. No verbete ficha, por exemplo, a datação "1836 cf. SC" corresponde ao substantivo na acepção 1 LUD "tento com que se marcam os pontos ou se fazem os pagamentos no jogo":
4.3.1 Quando não foi possível manter esse procedimento
geral, informações complementares referentes à datação
foram inseridas no campo da etimologia.
4.3.1.1 Quando a data disponível não corresponde à
primeira acepção do verbete e não se pôde alterar
a ordem das acepções por razões de técnica lexicológica
(como é o caso das espécies e famílias em zoologia, que
apresentam uma estrutura de redação fixa), informa-se, no final
da etimologia, após ponto-e-vírgula, a qual das acepções
corresponde a data registrada:
4.3.1.2 Quando a data disponível não correspondia à acepção primeira do verbete, por não ser ela semanticamente a original, esclareceu-se tal fato no final da etimologia, após ponto-e-vírgula:
4.3.1.3 Quando o verbete apresentava classe dupla (por exemplo, "adj.s.m.") e a datação correspondia a uma dessas classes apenas, fez-se o registro da data no seu campo próprio, mas informou-se, dentro do campo da etimologia, a qual das classes a data correspondia:
4.3.2 Há duas
oportunidades em que uma data que apuramos para uma forma histórica vem
registrada apenas no campo da etimologia, não constando de outra parte
do verbete:
4.3.2.1 Quando a data correspondia a uma acepção que, por
obsoleta, não se registrou no desenvolvimento do verbete - caso em que
a data, a grafia e a antiga acepção da palavra foram registradas
na etimologia como primeira forma histórica ou como objeto de comentário:
4.3.2.2 A segunda oportunidade ocorre quando a data corresponde a formas históricas que apresentam variações morfológicas em relação à atual - caso em que seu registro figura em comentário, depois das formas históricas, no campo da etimologia:
4.3.3 Casos especiais
em que critérios morfológicos interferiram no registro das datações:
4.3.3.1 Quando datamos verbos, que tradicionalmente são dicionarizados
sob a forma de infinitivo impessoal, a datação pode provir de
qualquer de suas flexões. A flexão referente, então, é
citada, no campo da etimologia, como forma histórica:
4.3.3.2 Quando se datam femininos substantivados de adjetivos participiais, a datação provém, igualmente, de qualquer das formas flexionadas do verbo, acrescentando-se, no final da etimologia, a indicação: "datado a partir do (particípio ou verbo)", de acordo com o caso:
4.3.3.3 Quando tivemos em mãos datação de um advérbio de sufixo -mente anterior à de seu adjetivo formador, estendemo-la ao adjetivo, inserindo, no campo da etimologia, além das formas históricas, o comentário "datado a partir do adv.":
4.3.4 Registram-se, episodicamente, datas para mais de uma acepção
dos verbetes. As datas posteriores à da acepção mais antiga
(registrada no campo da datação principal) são indicadas
após o número das demais acepções, sempre entre
parênteses:
4.3.5 Em casos isolados, haverá discrepância entre a data apurada para um vocábulo português e aquela dicionarizada para o seu étimo numa língua estrangeira. Quando tal coisa sucedeu, o campo da datação foi preenchido e, por vezes, fez-se a enumeração das formas históricas documentadas, admitindo que o fato talvez se devesse a diferenças entre as fontes do português e as fontes da língua estrangeira usadas para a determinação da etimologia: